apenas uma reflexão sobre vida e gerações que se vão cruzando.. tudo se mantém bem, felizmente.
Hoje conto-vos uma história sobre uma menina já grandinha... ela cresceu numa aldeia pequena, viveu a sua vida sempre muito regrada e também muito partilhada . Nasceu e cresceu sem grandes condições e numa família onde haviam muitos para alimentar. Trabalhou sempre no campo, de sol a sol, determinada na sua ajuda, dedicada nas suas tarefas e responsabilidades. O sonho dos seus pais passava por um casamento com um rapaz de boas famílias e que economicamente estivesse bem melhor, e não faltavam candidatos. Mas ela, determinada e menina de si, acordou uma manhã bem cedo e sem que ninguém soubesse foi casar com o rapaz que gostava. Quando chegou a casa, sua mãe ficou tão magoada que a castigou, mas nada havia a fazer... tinham jurado fidelidade e amor eterno, queriam ser um casal, queriam que deste amor nascesse uma grande família.
O rapaz com quem casou, era ainda mais pobre e tanto ou mais trabalhador... juntos criaram a sua família de 9 filhos, e ao seu jeito educaram-nos sobre valores nobres e lhe ensinaram tudo o que sabiam. Ele, alfaiate desde novo, conhecia a arte como poucos, ela conhecedora das terras e da natureza. Esta jovem–menina-mulher, viu de tudo acontecer-lhe na vida. Foi uma mulher de armas no que toca a trabalho e uma valente no que toca a emoções. Viu filhos a falecerem-lhe nos braços, viu doenças a passarem-lhe por cima e pelo seu companheiro, passou por dificuldades, trabalhou dia e noite, foi incansável no cuidar da sua família.
Já mais adiante na vida, já sem companheiro, e já sem 5 filhos... foi avó. Contam as netas que crescer ao lado desta avó não foi pêra doce. A sua energia fazia-as andar uma velocidade que não era fácil acompanhar. Na verdade, aqui houveram tantos momentos e historias que daria para um livro inteirinho. Esta avó, cuidadosa, amiga, atenciosa, foi partilhando tudo o que sabia, dos poemas que aprendera quando menina, das canções da sua juventude, os provérbios, o seu conhecimento da natureza, os seus truques culinários, o seu cuidado com a roupa... do quintal à fonte, o milho, as batatas, as regas... tantas historias. Contam as segundas netas, que eram recebidas da escola com miminhos culinários, o bife com batatas fritas e ovo era pontual mas de um sabor único, o caldo de arroz, as favas e carne frita, a sopa de feijão... seguiam-se os deveres da escola e uma tardada pelo quintal... no verão, contavam com um mês inteirinho na praia, mas haviam horários de sol, haviam refeições em casa e a hora do banho era só na presença do banheiro e os 5 minutos eram bem contados. Na praia haviam jogos na areia, feitos de pedras e conchas, haviam historias, havia um guarda sol gigante e longos e quentinhos dias.
Ao longo do tempo as suas tarefas e obrigações foram reduzindo... e os anos correndo a passo acelerado.
Hoje, esta menina grandinha tem uma idade rara, um sem número de vivências, historias, conhecimentos... esta menina está doentita e a cada dia a sua energia e forças vão terminando... com facilidade distribui beijos e abraços, provoca os futebolistas e tem resposta sempre pronta, interessa-se pelas noticias do mundo., pergunta por todos..
Há dias teve uma conversa sobre o amor e a importância da partilha, linda... entre gestos e olhares que diziam muito mais do que as palavras, passou a sua mensagem tão especial à neta.. e estava tão feliz e orgulhosa com esse amor, pediu continuidade e união sempre, porque foi isso que ela viu prometer e os fez prometer novamente.
Hoje damos conta do seu fim de vida, o seu ciclo começa a fechar. Ninguém nunca imaginou realmente que pudesse acontecer. Para todos, esta energia seria ainda mais prolongada... Deixa um legado bonito, uma família linda e orgulhosa por ter esta matriarca sempre tão presente e tão enérgica.
Chamam-lhe mãezinha, porque todas as gerações passaram por si e sentiram esta dedicação de mãe incansável, aprenderam e partilharam deste exemplo. Grande coração, grande mulher!
E todos sabem, que no dia da sua partida, terão um anjinho lá em cima, a olhar e cuidar, como sempre fez ...
2 comentários:
Ser recordada desta forma é prmanecer via sempre! Como eu gostava de ser uma mãezinha...
lindo.
viva
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